sábado, 19 de janeiro de 2013

Tempo quente e seco antecipa parte da safra de uva 2013

Por *Pesq. José Eduardo B. A. Monteiro
       Pesq. Henrique P. dos Santos
Pela terceira safra consecutiva estamos passando por um período relativamente seco, com ocorrência de chuvas em quantidade abaixo da Normal Climatológica (média que considera o período 1961 a 1990).
Na safra 2010/11, os meses de outubro, novembro e dezembro apresentaram totais de chuva menores que o normal, o que atenuou a ocorrência de doenças e facilitou a realização das práticas de manejo fitossanitário pelos agricultores. A situação mudou no final de janeiro, quando voltou a chover com regularidade e em maior quantidade. Com uma seca leve e condições ambientais desfavoráveis à ocorrência de doenças, a safra 2011 foi recorde, chegando à 709 mil toneladas de uvas no Estado do rio Grande do Sul.
Na safra 2011/12, situação parecida se repetiu, só que desta vez com maior intensidade. De outubro a março, todos os meses, exceto fevereiro, apresentaram chuva menor que a normal climatológica. Em novembro, mês mais seco, a chuva registrada na estação da EMBRAPA Uva e Vinho foi de 23 mm, enquanto que a média normal para o mês é de 140 mm. No início de dezembro houve relatos de morte de videiras em locais de solos rasos. A estimativa de perdas nessa safra, devido à seca e granizo, foi cerca de 20% em relação à safra 2010/11.

Na atual safra 2012/13, situação similar volta a ocorrer, com pouca chuva no início do ciclo. Novembro apresentou acumulado de 24 mm, concentrada nos últimos dias do mês. A ocorrência de poucas nuvens e ausência de chuvas favoreceu a predominância de dias com sol. Essa situação proporcionou, ao longo de nov. e início de dez., condições para ocorrência de dias progressivamente mais quentes e secos. Porém, o período seco findou com as chuvas que começaram a ocorrer a partir de meados de dezembro e se intensificaram no fim do mês.
As temperaturas médias de outubro, novembro e dezembro mantiveram-se acima da média normal. Esta condição determinou que algumas variedades precoces (como Vênus e Niágara), normalmente colhidas em dezembro, fossem colhidas mais cedo, conforme relatado por produtores da Serra Gaúcha. Isso ocorre porque, quanto maior a temperatura, maior é a taxa metabólica e o ritmo de desenvolvimento das videiras, e das plantas de uma maneira geral. Ou seja, todo o ciclo da planta se antecipa, favorecendo a precocidade da brotação, floração, frutificação e maturação. A predominância de dias com sol e secos também contribuiu por desfavorecer a ocorrência de doenças e diminuir a necessidade de aplicações de fungicidas contra doenças. Até o primeiro decêndio de dezembro, a incidência de míldio em parreirais de Bento Gonçalves tem se mantido abaixo da média. Por outro lado, constatou-se maior incidência de oídio, doença típica de regiões com clima seco e quente (ex.: nordeste do País). Como o controle do oídio exige tratamento distinto em comparação ao míldio, a identificação precoce da doença é uma etapa crucial para maior eficácia de controle.
Apesar da deficiência hídrica constatada no Estado do Rio Grande do Sul no mês de novembro, ainda não existe ameaça para a produtividade dos parreirais gaúchos. Em outubro, os solos estavam com elevados níveis de armazenamento hídrico. As chuvas naquele mês totalizaram 151 mm – valor próximo à normal de 156 mm. Assim, apesar da chuva em novembro ter sido aproximadamente a mesma que a de novembro de 2011, a deficiência hídrica na cultura da uva não foi tão intensa. Aliado a este fato, as chuvas ocorridas no segundo e terceiro decêndios de dezembro de 2012, interromperam a sequencia de dias em que a cultura encontrava-se com deficiência hídrica, e recuperaram parcialmente os níveis de armazenamento de água no solo.
No atual cenário, analisado até o fim de dezembro, não se pode estimar com precisão a perspectiva da safra 2013 para todas as cultivares de uva, mas já se pode estimar para um boa parte das delas. O período compreendido entre novembro e o início de janeiro é o mais importante para a definição do potencial produtivo, pois corresponde a fase de enchimento dos frutos. Dessa forma, o potencial produtivo já está praticamente garantido, pois mesmo que volte a ocorrer um período seco a partir de janeiro, neste momento os solos das regiões produtoras encontram-se em sua capacidade máxima de armazenamento.
De acordo com o prognóstico climático de consenso, elaborado em conjunto pelo Centro de Previsão e Estudos Climáticos (CPTEC) e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o trimestre de Janeiro, Fevereiro e Março deve apresentar um total de chuva acima da faixa normal no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Nesse caso, a probabilidade de voltarmos a observar um período seco é muito pequena.
Nesse contexto, as condições ambientais observadas até o momento situam o potencial produtivo da safra atual em uma posição intermediária entre as safras 2011 e 2012. Nem tão favorável à produtividade quanto a de 2011, nem tão desfavorável quanto a de 2012. Dessa forma, salvo imprevistos com fenômenos meteorológicos adversos como o granizo de 2012, ou excesso de chuvas na maturação que levaria a perdas com doenças, é muito provável que a safra 2013 supere a safra 2012 em quantidade. 
 
Por fim, é sempre interessante lembrar que o total de uva produzida a cada ano não depende apenas das condições ambientais, mas também depende muito das decisões tomadas por cada produtor, sempre muito influenciadas pelas perspectivas de mercado e preço da uva. Várias ações de manejo realizadas ao longo do ciclo da cultura afetam a produtividade e qualidade da uva, tais como: adubação, poda, controle de pragas e doenças. O ambiente define o potencial de produção, enquanto o manejo da cultura, ou seja, as técnicas agronômicas empregadas, define o quanto desse potencial será aproveitado.

*Pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho.

Fonte: http://www.agrolink.com.br

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