terça-feira, 22 de janeiro de 2013


Soja avança e ocupa espaço de produções tradicionais

Embalada por preços altos, oleaginosa conquista agricultores da região sul do Estado e ocupa espaços antes ocupados por outras culturas. 
Por: Roberto Witter

Roberto Dias - Especial DP
Onde antes brotava arroz, feijão, fumo ou hortaliças, agora reina a soja. Com preços altos embalados pela disputa entre o mercado externo, as indústrias que transformam o grão em óleo de cozinha e as usinas de biodiesel, a oleaginosa toma conta das lavouras do Sul do Estado. Na região de Bagé o aumento na área cultivada foi de 23,43% para esta safra. Em Pelotas e nos municípios que ficam ao redor, o índice é ainda superior: 26,93%.Habituado a plantar fumo e hortaliças, Márcio Heling, de 36 anos, é um retrato do novo momento. Há dois anos ele cultiva a soja no 3º distrito de Pelotas. Ano passado, foram 20 hectares. Enquanto o Norte e Noroeste do Estado (tradicionais regiões produtoras) ultrapassavam uma das maiores secas da história e colhiam sete sacas do grão por hectare, o pelotense abarrotava 45 sacos em cada hectare colhido, mesmo com um pouco de estiagem. 
“Na safra passada o lucro foi bom. Vendi a saca a R$ 60,50. Teve gente que pegou ainda mais”, conta. Este ano ele dobrou a área cultivada e espera um preço ainda maior. “O pessoal da Emater e das cooperativas já fala em R$ 65,00. Se der isso, tá mais do que bom”, avalia o agricultor. 
Clima de otimismo
O otimismo se completa com a situação das plantas. À época do cultivo, no final do mês de novembro, houve um pequeno período de estiagem que chegou a preocupar. Logo em seguida a chuva normalizou e passou a vir na medida certa para o desenvolvimento vegetativo. Até mesmo as pragas, que se proliferam mais facilmente em períodos de maior umidade, estão sendo bem controladas pelo agricultor.   
“Sempre teve soja aqui (na região), mas nos últimos três anos aumentou bastante. Primeiro pelo preço, que é mais alto e mais estável que as hortaliças, por exemplo. Depois, pela facilidade de manejo. Na soja tudo é mecanizado. Já no fumo e nas hortaliças o trabalho é todo manual”, explica. 
O movimento se repete em outros municípios. Das culturas mais comuns, como arroz, feijão e milho, a soja foi a única que teve ampliação de área em todas as regiões do Estado. “Não é só o preço da soja que atrai. A produtividade é muito maior. Em ano de safra excelente, uma lavoura de feijão rende 20 sacas por hectare aqui na região. A soja rende entre 45 e 50 sacas, isso sem irrigação. Irrigado amplia ainda mais”, comenta Roberto Simich, engenheiro agrônomo da Emater em Pelotas. 
Várzea
Além do feijão e hortaliças, a oleaginosa se expande também para a várzea. Dados do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) apontam que, só no município de Pelotas, 12 mil hectares de lavoura possuem rotação entre arroz e soja. Tradicional na metade Sul, a pecuária também é preterida em alguns casos. “Quem arrendava áreas e destinava à criação de gado paga em torno de 30 kg de boi para o arrendamento. Em termos de soja, o custo fica na casa de seis sacos. Dá mais dinheiro plantar, por isso o pessoal está abandonando ou diminuindo a pecuária em alguns casos”, finaliza Simich. 
De olho na expansão, cooperativa abre unidade de recebimento de grãos
A proximidade com o porto de Rio Grande e a expansão da soja no sul do Estado levou a Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio) a expandir negócios na zona sul. Em fevereiro a empresa inaugura uma unidade de recebimento de grãos no complexo portuário, em Rio Grande. A capacidade será para 1,5 milhão de sacos. A empresa, que tem 40 filiais espalhadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, possui atualmente três unidades de negócio na região: uma em Pelotas, outra em Santa Vitória do Palmar, e uma em Arroio Grande
“Em Santa Vitória do Palmar o forte sempre foi o arroz, mas a soja está se expandindo na várzea. Ano passado foram cinco mil hectares cultivados. Este ano subiu para 15 mil”, conta Marcelo Oliveira, coordenador comercial da Cooplantio Pelotas. Em Pelotas, o aumento foi na venda de sementes e insumos agrícolas. “O nosso ano vai até abril, quando fechamos a estatística. Então não há um número 100% correto, mas pelo que temos visto, a venda de sementes subiu entre 15% e 20% este ano”, calcula Oliveira.  
Possível seca nos Estados Unidos elevaria soja a valores históricos
Enquanto agrônomos e agricultores estão atentos a possíveis invasões de pragas nas lavouras, economistas e analistas de mercado se debruçam sobre as previsões do United States Department of Agriculture (USDA), órgão que acompanha a agricultura nos Estados Unidos. Os americanos vivem a expectativa de mais um ano de seca. 
“Ano passado os Estados Unidos tiveram uma seca terrível, que atingiu a soja deles em todos os estágios. Como as perdas foram enormes, o preço da soja disparou na Bolsa de Chicago, que regula o valor das commodities”, explica o analista de mercado Farias Toigo, da Capital Corretora de Mercadorias, com sede em Porto Alegre. 
O último relatório emitido pelo USDA aponta risco de seca para os meses de abril e maio, época de plantio da oleaginosa americana e de colheita do produto no Brasil. Confirmada a expectativa, Toigo explica que a soja pode alcançar mais uma vez preços históricos. “Nova seca nos Estados Unidos repetiria os preços elevados do ano passado. A diferença é que agora temos uma perspectiva de safra histórica no Brasil. Teríamos o produto a oferecer para o mercado externo, ou seja, seria um ano para amenizar as perdas que o Rio Grande do Sul teve no ano passado”, complementa o analista. 
Segundo a Emater, atualmente o preço médio pago pela saca de 60 quilos é R$ 59,50. Por isso Toigo recomenda aos produtores que comercializem até 35% da quantia de soja que planejam colher, em forma de contratos futuros, com entrega prevista para os meses de maio e junho. “O preço está bom e seria uma forma de garantir o pagamento dos insumos. Para comercializar o restante, é interessante que o produtor espere uma possível alta de preço na época da colheita”, sugere.
FONTE: www.diariopopular.com.br

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